Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
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Corso decadente
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(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A quem ou a que serve os desfiles? Na história, desde tempos remotos, serve para demonstrar poder, força, capacidade, comando. Na Antiguidade era assim: após vitórias em batalhas importantes, os soldados ao retornar, desfilavam para demonstrar tais predicados ao povo, glorificando o feito. Na Idade Média, de igual forma, os nobres retornavam aos seus fortes e desfilavam entre a população que a prestigiava entre aplausos. A História nos demonstra que, mais tempo ou menos tempo, algumas coisas são ressignificadas, outras permanecem.

Na História mais recente, no século XX, assistimos a governos ditatoriais se utilizarem de seus aparatos militares para ratificar seu poder, uma espécie de virilidade, onde quanto maior o exército, maior o falo. Falo é o nome que se dá à representação do pênis. Na antiguidade era considerado uma imagem sagrada, venerada como objeto de culto, era um símbolo místico e religioso, representava força.

Vimos os nazistas produzirem desfiles invejáveis, dignos de obras cinematográficas. Vimos os fascistas desfilarem magnificamente em uma disciplina de trem. Na Guerra Fria, além dos soldados, assistíamos de um lado e do outro a armas impressionantes, misseis colossais que nos fazia duvidar se eram verdadeiros ou se eram apenas meras carcaças de metal. Com o fim da “Era dos Extremos”, passamos a ver desfiles nas vitórias esportivas. Quem não lembra da seleção brasileira passando em carro aberto após as conquistas das copas do mundo? Até aqui, penso que o leitor tenha percebido que os desfiles, sejam militares ou esportivos, acontecem sempre na vitória. Nunca há desfiles na derrota, independente de que derrota que tenha sido.

Mas assistimos no Brasil a algo inédito, um desfile que não tem representatividade nenhuma, um desfile que não demostra vitória, glória, poder, força, capacidade ou comando nenhum. Nem mesmo a presença do povo para prestigiar entre gritos nacionalistas e aplausos. Pelo contrário, o que fica retratado é a imagem de um poder debilitado, em um momento de fragilidade institucional que, independente do governo, mostra que o Brasil perdeu, foi derrotado. É o desfile decadente do impávido colosso.

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