Em todas as cidades onde é encenada a Paixão de Cristo a expectativa se renova a cada ano sobre quem será o ator que fará o papel principal. Na capital paraibana, a Prefeitura de João Pessoa antecipou o nome da atriz Érika Januza como uma Maria negra, mãe de Jesus, e dias depois confirmou Henri Castelli como protagonista do espetáculo que será apresentado na Semana Santa. É verdade que se trata de um ator branco e de olhos claros, a forma mais difundida pela Igreja Católica como a imagem do filho de Deus, mas a opção por Castelli, um ator que professa religião de matriz africana para personificar aquele que deu origem ao cristianismo, comprova que a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) prioriza a arte acima de qualquer embate religioso.
Além de já ter experiência no papel de Jesus, Castelli é filho de santo de Mãe Neide Oyá D’Oxum, ialorixá respeitada no estado de Alagoas. Ele faz questão de homenagear e reverenciar sua mãe de santo, como já publicou abertamente em sua rede social digital.
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A escolha de um ator filho de santo para o papel de Jesus na Paixão de Cristo é extremamente representativa no momento em que conservadorismo e preconceitos têm pautado costumes e modos de gerir, fazendo com que políticos frágeis sucumbam a pressões de minorias fundamentalistas e raivosas. Com Castelli vivendo Jesus, a Prefeitura de João Pessoa amplia a diversidade no elenco e toma partido no enfrentamento à discriminação.