Kim acordou cedo. Como bom cidadão de bem, passou a mão no travesseiro, pronto para aquele gesto carinhoso matinal. Mas ela havia sumido. Evaporado. Estranhou. Olhou o relógio, olhou o teto, olhou o próprio reflexo no espelho e se perguntou: “Será que exagerei no discurso contra o Estado inchado e agora tô sozinho?”
Pegou o celular. Nenhuma ligação perdida. Nenhuma indireta passivo-agressiva no Instagram. Apenas uma mensagem curta e direta:
“Amor, hoje é dia de grana.”
Kim franziu a testa. Hoje não era dia de votação da reforma tributária, nem de CPI, nem de liberar emendas parlamentares. O que diabos significava “dia de grana”? A inquietação tomou conta. Algo estava errado. Como um fiscal da moral e dos bons costumes, saiu às ruas para investigar. E foi chegando naquelas áreas problemáticas da cidade, cheias de más influências e, pior, gente que não lê Mises, que ele a viu.
Linda, plena, sorridente… de papinho com um empresário com cara de quem tinha um CNPJ mais sólido que o dele. Kim arregalou os olhos. O coração disparou. Aquilo era uma afronta ao conservadorismo de Twitter!
— Amor? — ele murmurou, confuso.
Ela virou-se, serena, sem culpa, sem peso na consciência, e respondeu com uma tranquilidade assustadora:
— Kim, isso aqui é só um show.
Foi nesse momento que o choque veio como um pacotão de taxas governamentais. Kim Kataguiri havia descoberto que ela era do job. O chão sumiu sob seus pés. Quem ele achava ser uma gueixa inocente e dedicada estava, na verdade, prestando serviços de livre negociação direta, sem regulamentação estatal!
Kim suou frio. Não podia deixar aquilo acontecer. A moralidade pública precisava ser preservada!
Na mesma noite, inspirado pela experiência traumática, Kim sentou-se à mesa, abriu seu computador e escreveu o mais novo projeto de lei da sua carreira: PROIBIÇÃO DA PROSTITUIÇÃO EM VIAS PÚBLICAS.
Era o único jeito de lidar com a decepção. Se ele não podia impedir o livre mercado do afeto, ao menos podia tirá-lo das ruas.
Mas, no fundo, Kim sabia: não era só sobre política. Era sobre orgulho ferido. E sobre a verdade amarga que ele nunca confessaria em público: Ele não estava triste porque ela era do job. Ele estava triste porque, no rodízio de sushi, ele era só mais um que comia de pauzinho.