A campanha para o Senado caminha para ter um final inesperado. Ricardo Coutinho (PT), que entrou na disputa como favorito, pode terminar essa eleição com a candidatura indeferida, a pecha de misógino e, ainda, sem o apoio dos setores de esquerda, tudo em decorrência dos ataques que proferiu contra a candidata a senadora Pollyanna Dutra (PSB).
A fúria de Ricardo decorre do fato de Pollyanna alertar que sua candidatura é a única aliada a Lula com segurança jurídica, logo, apta a assumir a vaga no Senado em caso de vitória. Votar em Ricardo representa risco de perder o voto, visto que sua candidatura foi indeferida pela Justiça Eleitoral.
Além disso, Pollyanna figura nas pesquisas em terceiro lugar, atrás do candidato bolsonarista Efraim Filho (UB). Dessa forma, caso Ricardo não consiga reverter a situação, seus votos serão anulados e a direita paraibana ganhará um senador como resultado da aposta malsucedida do PT.
Porém, no desespero de manter seu eleitorado, Ricardo Coutinho fez ataques a Pollyanna de cunhos machista e misógino. Ricardo tentou associar o fato de o marido de Pollyanna, o Barão, ser filiado ao PL, mesmo partido de Bolsonaro, mais o apoio do progressista Aguinaldo Ribeiro e da senadora do PSD, Daniella Ribeiro, à constatação de que a candidata do PSB é na verdade uma aliada de Bolsonaro e, sendo assim, não seria digna dos votos de quem apoia Lula na Paraíba.
Porém, Ricardo errou na dose e colocou Pollyanna como foco de temas que são muito sensíveis, exatamente no público que lhe segue e tem ojeriza a Bolsonaro: o machismo e a leviandade política.
Faz tempo que os partidos deixaram de atestar posicionamento político. O PL que hoje tem Bolsonaro nos seus quadros está longe de ser exemplo de conduta ideológica. Seus filiados se comportam de maneira completamente independente em relação a posicionamento político, com exemplos de apoios distintos para a Presidência, Governo do Estado e outros cargos. Essa postura não é exclusividade do PL, muitos partidos de direita e centro dividem seus filiados no apoio aos candidatos à Presidência.
O tiro machista que Ricardo desferiu em direção a Pollyanna resvalou e voltou contra ele. Tratar Pollyanna como uma mera subordinada do marido é tão absurdo quanto se fosse o contrário, correlacionar as posturas da esposa de qualquer político às dele próprio.
Para completar, Ricardo resolve condenar Pollyanna com base em seus aliados políticos circunstanciais. Se a regra valesse na política paraibana, Ricardo não teria passado da primeira eleição a um cargo no Executivo. Em sua trajetória, fez alianças e acordos com todos os principais grupos políticos da Paraíba, notadamente, os mais conservadores. De Cássio a Zé Maranhão, de Efraim a Aguinaldo Ribeiro, com todos, conforme a conveniência política, Ricardo Coutinho formou alianças, sem contar que figuras ultraconservadoras ocuparam cargos em seus governos, a exemplo de Wallber Virgolino e Bruno Roberto. Mesmo com esse histórico, Ricardo não merece ser tratado como um representante da extrema direita. Longe disso, os ajustes táticos não definem a estratégia. Contudo, quem perde a noção de quem é seu adversário pode se transformar naquilo que aparentemente dizia combater.
Pollyanna foi a parceira de chapa que João Azevêdo escolheu para resolver seus problemas políticos. Afinal, muitos dos seus aliados fizeram opção por apoiar Efraim e Ricardo, e o governador não comprou brigas por sua candidata ao Senado, muito menos fez campanha em favor de Lula. Agora, Pollyanna pode ser eleita pelos ataques do favorito Ricardo, que ressaltaram sua posição de mulher e, também, por ser opositora a Bolsonaro, e assim faz o contraponto a Efraim.