O Parque da Cidade de João Pessoa, na área onde funcionava o antigo aeroclube, está com as obras embargadas em consequência de uma ação na Justiça do Instituto Protecionista SOS Animais e Plantas, que alega risco à fauna da área, por existir uma laguna que seria o habitat de diversos ninhos de corujas.
Parece estranho que durante as décadas em que funcionou o antigo aeroclube, jamais se teve conhecimento de qualquer ação com o intuito de paralisar as atividades do aeródromo por motivos semelhantes. Paira no ar a dúvida sobre qual critério serviria para motivar um instituto de proteção da natureza, que antes se omitia em meio ao brilho dos aviões que ocupavam aquele local.
Não se enxerga razoabilidade na decisão da Justiça da Paraíba de embargar uma obra que converteria uma área completamente degrada e sem vegetação em um parque que será utilizado pela população. É verdade que as questões ambientais devem ser tratadas com o maior cuidado possível, mas elas não podem extrapolar o bom senso e mostrar uma desproporcionalidade que coloque em questão a própria lógica da proteção ambiental.
A criação de um parque é certamente um ambiente muito mais propício à preservação da fauna que simplesmente deixar uma área desértica, numa região densamente habitada, que carece de espaços públicos de vivência, sem contar que não havendo o devido controle, a área pode sofrer com a ocupação ilegal e desordenada.
A justiça deve servir como mecanismo para mediar conflitos e preservar direitos. Na hora que impõe decisões que geram conflitos, deixa de lado a construção de consensos e inviabiliza um bem público que servirá a todos. Nessa hora, aparecem questionamentos sobre a quem pode interessar as decisões tomadas.
Diante da exigência de uma demanda considerada justa no tocante à preservação da fauna existente no local e a também justa demanda da população por espaços públicos de lazer, seria mais producente o estabelecimento de limites que ponderassem as justas reivindicações e, assim, realmente fosse feita a justiça.
Não se concebe onde antes existia uma pista de pouso, cercada por aridez e na qual os pássaros eram considerados um perigo para as aeronaves, que a construção de um parque, com grande investimento no paisagismo e recuperação do solo, além de diversas áreas destinadas ao lazer da população, seja mais prejudicial ao meio ambiente.
A situação faz parecer que para alguns seria melhor que o aeroclube continuasse no local, servindo a poucos e colocando em risco as pessoas que moram em torno. É algo tão esdrúxulo, que não seria surpresa se dessas tocas que hoje habitam corujas saiam outras aves exóticas e com instinto predador.