Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Do Nobel de Literatura à extrema direita: o legado do escritor e político peruano Mario Vargas Llosa
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Mario Vargas Llosa, fotografado em 22 de setembro de 2011 (Foto: Arild Vågen/Wikimedia Commons)

“Sou basicamente um escritor e gostaria de ser lembrado – se for lembrado – pela minha escrita e pelo meu trabalho”, disse o escritor peruano Mario Vargas Llosa, em 2010, na ocasião do seu Prêmio Nobel de Literatura. Talvez um discurso impregnado de certa culpa, ou a antevisão da crise de imagem instalada sobre sua persona política. Acredito que somos aquilo que deixamos e seremos lembrados por tudo o que tenhamos feito. A relevância da obra de Vargas Llosa é inegável, assim como não se pode resumir a notícia de sua morte a um obituário insosso, na linha do jornalismo de preenchimento de informações, sob um texto simplista e anunciativo “morreu na noite deste domingo (13), aos 89 anos…”.

Vargas Llosa viveu da literatura e foi por meio dela que deixou seu maior legado à humanidade. Além de escritor, era também político. Nunca ocupou oficialmente um cargo eletivo, mas tentou a carreira política e, após fracassar na eleição presidencial de 1990, quando foi derrotado por Alberto Fujimori, ele continuou usando sua voz, por meio de espaços privilegiados na imprensa internacional, para fazer política. Um homem branco, com a carreira absolutamente consolidada, e o poder de influenciar. Não a ponto de resolver uma eleição, mas ele sabia do peso que detinha e fazia questão de usá-lo.

Mario Vargas Llosa jamais escondeu suas posições políticas. Começou apoiando a Revolução Cubana, saltou para o liberalismo ao longo da vida e terminou abraçado à extrema direita. Considerado um gigante da geração de ouro da literatura da América Latina, usou disso para atuar como político no bloco. Em 2019, nas eleições argentinas, apoiou o liberal Mauricio Macri; nas eleições presidenciais de seu país, o Peru, em 2021, pediu votos para Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori; ainda em 2021, nas eleições chilenas, apoiou José Antonio Kast contra Gabriel Boric; em 2022, na eleições do Brasil, disse preferir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Lula (PT). Também já rasgou elogios ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), ícone do golpe contra a ex-presidente Dilma Rouseff e de todo o movimento lavajatista que manipulou a Justiça brasileira por meio de decisões reconhecidamente parciais, depois invalidadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Assim como ele teve em vida a coragem de assumir determinadas posições políticas, faz sentido que seu legado carregue o peso das suas convicções. Não é justo que uma matéria sobre a morte traga apenas louros, prêmios e flores, isentando parte de uma vida e limitando a existência da figura pública apenas à sua obra. Se é caso de separar a obra do autor, seus leitores decidirão. Da mesma forma que a obra é imortal, a história é implacável. E por tudo o que Vargas Llosa militou em vida, ele será lembrado após a morte, independentemente de seu desejo.

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