— Eu achei que ia ser maior!
Ela falou assim, do nada, olhando pela janela do carro, com aquela voz pensativa de quem repassa uma decepção íntima.
Ele, ao volante, sentiu o sangue gelar. O clima no carro, que até então era de um domingo morno, virou um episódio especial de drama conjugal. Piscou devagar. Engoliu seco. Passou a mão na nuca, como quem procura o botão de reinício do cérebro.
— Maior como? — arriscou, com a coragem dos inocentes.
— Ah… maior. Imponente, sabe? Eu realmente achei que fosse me impressionar. Que fosse… sei lá… marcante. Uma coisa daquelas que a gente vê uma vez na vida e fica pensando por dias.
Ele agora já suava. Marcante? Uma coisa que impressiona? Uma vez na vida? Isso era coisa que se diz assim, em plena BR-230, com o sol batendo no para-brisa e um Fiat Uno ultrapassando pela direita?
— Bom, às vezes… o que importa é a… a funcionalidade, né? — tentou filosofar, quase implorando por misericórdia.
Ela soltou um suspiro longo, como quem carrega no peito o peso de um sonho frustrado.
— Pode ser. Mas eu esperava mais. Muito mais. Com todo aquele barulho, o alvoroço… pensei que ia ver algo grandioso, envolvente, que tirasse meu fôlego. Quando passou na minha frente, fiquei procurando o tal “impacto”. E nada. Nem um arrepio. Nem borboleta no estômago.
Ele já considerava jogar o carro no mato. Que raio de metáfora era aquela? Como se responde a isso?
— Amor… você tá querendo dizer que… que aquilo… que eu…
Ela virou-se lentamente, encarando-o com aquele olhar de quem sabe exatamente o que está fazendo:
— Que você o quê?
Ele arregalou os olhos. Travou. Abriu a boca. Fechou. Piscou cinco vezes. Pensou em inventar uma pane no carro. Nada.
E foi aí que ela deu o golpe final, com um sorrisinho safado no canto da boca:
— Tô falando do transformador, meu bem. Parecia uma geladeira de padaria empurrada por escoteiros. Um vexame logístico. Prometeram um monstro e entregaram um caixote. Tô decepcionada até agora.
Ele bufou, aliviado e humilhado ao mesmo tempo.
— Ah, tá. Que bom…
— Por quê? Você achou que eu tava falando do quê?
— Nada, não… só tô feliz que a geladeira decepcionante não sou eu.
E seguiram viagem. Ela rindo. Ele rezando pro próximo comboio logístico ser pelo menos do tamanho da autoestima que ele quase perde.