Em tempos de superexposição da vida cotidiana nas redes sociais digitais, é comum que os membros do casal que termina um relacionamento apaguem suas fotos juntos. Muitos até dizem que este é o primeiro sinal antes que o término seja anunciado. Hoje, foi em tom de ironia que o presidente Jair Bolsonaro foi questionado sobre o motivo de suas fotos com a cloroquina terem sido apagadas de seus perfis oficiais.
Desde ontem, o governo federal estranhamente tem adotado nova postura sempre que questionado sobre o tão difundido “tratamento precoce” contra a covid-19. O ministro Eduardo Pazuello chegou a mentir publicamente quando disse que nunca havia recomendado tratamento precoce. Recomendou sim, tanto ele, quanto Bolsonaro. Na verdade, só foi posto no cargo para referendar aquilo que seus dois antecessores se negaram a fazer: indicar um tratamento sem comprovação científica e colocar em risco a saúde da população.
A menina dos olhos de Bolsonaro até então era a cloroquina. O presidente insistiu, são muitas as fotos dele mostrando o remédio. Chegou a aplicar dinheiro público na fabricação do fármaco que só serve para tratar malária. Hoje o Brasil tem remédio contra malária para muitas gerações. Não vai ter malária pra tanto remédio. Mau uso do dinheiro público escancarado.
Depois de tanto oferecer a cloroquina, veio a indicação do chamado “kit-covid”, com hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina D e zinco. Contra a ciência, em oposição às recomendações sanitárias e enfrentando até a Organização Mundial de Saúde (OMS), Bolsonaro se punha como único dono da verdade por ter “encontrado” a cura medicamentosa para a covid-19. Até o Twitter restringiu publicações, dele e do Ministério da Saúde, sobre o tratamento precoce.
Agora, pressionado, sentindo-se pego na mentira, achou pouco mudar de conversa e decidiu apagar as provas.
Com o acovardamento do presidente Jair Bolsonaro, duas pontas ficam soltas na mudança de rota sobre o uso da cloroquina.
Apesar de não ter eficácia comprovada contra covid-19, os milhões de comprimidos de cloroquina produzidos pelo Exército Brasileiro a mando do governo federal se justificavam por uma decisão política. Já se tratava de um escárnio contra o erário, mas seus apoiadores poderiam dizer que o presidente acreditava na eficácia da droga. Como não acredita mais e até nega já ter oferecido, a produção em massa de um remédio que não serve para nada pode ser percebida como crime.
E todos os médicos bolsonaristas que prescreviam cloroquina sob orientação do presidente da República, como ficam agora? Perdidos, no mínimo. Terão que escolher entre seguir Bolsonaro e também negar que um dia receitaram o medicamento, ou admitir a conduta médica equivocada por todo esse tempo. Serão mentirosos ou irresponsáveis réus confessos. De toda forma, criminosos.
A agência de verificação Aos Fatos identificou como fake a notícia de que Bolsonaro teria apagado todas as fotos com a cloroquina. No entanto, não há confirmação de que ele não tenha excluído algumas das imagens. Veja a informação atualizada e a explicação sobre o caso aqui: Namoro entre Bolsonaro e a cloroquina está em crise, mas não acabou.
Texto editado às 10h13 de 21.01.2021 para acréscimo do último parágrafo.