Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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Futebol na pandemia
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Meia Valdívia, do Avaí, jogou contra o CSA infectado pelo novo coronavírus (Foto: Reprodução/TV)

Do início da pandemia de covid-19 até aqui, o Brasil acumula mais de 213 mil mortos e 8,7 milhões de infectados pela doença. Mas o futebol, apesar da parada no ano passado, segue com calendário ativo na reta final do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, e Copa Libertadores da América, com duas equipes brasileiras na disputa pelo título. Clubes e federações já planejam os campeonatos estaduais. O país enfrenta alta na disseminação do vírus, caos em Manaus, nova cepa ainda mais transmissível, mortes batendo recordes dos meses de pico da pandemia e a falta de vacina para imunizar toda a população. Com todos esses fatores, ainda acho difícil que o futebol pare novamente. Nos acostumamos ao cotidiano trágico. 

Há uma complexa discussão entre futebol ser ou não atividade essencial. Em essência, não é. Mas os defensores do retorno do futebol argumentam sobre a importância de manter ativo o esporte que é paixão nacional. Existe ainda a justificativa financeira, pois muitos clubes não resistiriam a um ano sem calendário. Já são grandes as perdas com a ausência da bilheteria. Se a paralisação avançasse por mais tempo, toda uma cadeia econômica fomentada pelo futebol iria ruir. 

A volta aconteceu sob protocolos de segurança para reduzir a disseminação do vírus. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotou normas supostamente rígidas para que as competições pudessem ser realizadas. Sem torcida, sem brilho, com menos emoção, somente para a TV. 

Mais expostos à doença, jogadores viraram os novos gladiadores, atirados ao risco para divertir as multidões. Os torcedores, por sua vez, não colaboram. Em jogos decisivos, saem de casa para se aglomerar em festas na porta do estádio. 

Por mais que se adotem medidas de distanciamento, uso de máscaras e tudo o mais, não há protocolo que garanta proteção contra um mal invisível. Os jogadores são testados antes de cada partida, mas nas suas casas, entre seus familiares, ninguém vê o contágio. E na questão jogadores, estamos falando de atletas que na maioria das vezes são bem remunerados. 

Porém nem só com atletas se faz um jogo de futebol. Há roupeiro, massagista, motorista, profissional de imprensa. Todos igualmente expostos ao perigo da contaminação pelo novo coronavírus. 

A partida entre CSA e Avaí no último sábado (16), no estádio Rei Pelé, em Maceió, válida pela 35ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, escancarou a falácia dos protocolos de proteção à covid-19. O meia Valdívia, do Avaí, estava infectado com covid-19 e jogou o primeiro tempo da partida normalmente. A notícia do teste positivo do jogador chegou no intervalo do jogo. 

No âmbito do imponderável, é impossível dizer quantos depois foram contaminados a partir de um jogador. Da mesma forma que não se pode culpar a volta do futebol pelas mortes na pandemia, também não se pode afirmar que não haja relação alguma. A vida de cada vítima da doença não tem preço para quem chora a perda. Torcedores do Botafogo e familiares sofreram com a morte do motorista do clube, Maurão, aos 63 anos, assim como lamentamos aqui a ida precoce do querido radialista esportivo Gláucio Lima, aos 55 anos. Ambos trabalharam no retorno do futebol durante a pandemia e morreram vítimas de covid-19. Se foi em decorrência da volta, ou se estariam conosco caso o futebol estivesse suspenso, nunca saberemos. Hoje estão com Deus.

Texto publicado na edição de 22.01.2021 do jornal A União

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