Quando Bolsonaro ainda era um projeto de candidatura, o banqueiro Paulo Guedes chegou perto e resolveu fazer uma aposta. Algo habitual para um especulador, que sempre fez isso com o dinheiro alheio e que já foi acusado de gestão fraudulenta de fundos.
Para alguém que nunca foi dos mais influentes no cenário político brasileiro, o Guedes tinha a chance de ser um dos expoentes de um futuro governo. Diante de algumas aberrações que apoiavam o candidato Bolsonaro, de milicianos ao “Veio” da Havan, teriam no economista-banqueiro um contrapeso.
Era a tentativa de passar alguma credibilidade numa área crucial para o país. O passado de Chicago Boy e uma passagem pelo Chile foram as prerrogativas para criarem a paródia do Posto Ipiranga, numa alusão de que o virtual ministro estaria apto para resolver todas as mazelas econômicas do Brasil. A suposta competência parecia inquestionável. Para maioria dos empresários e a classe média, que move seu voto por razões objetivas, geralmente ligadas aos anseios de consumo, o Guedes era o salvo-conduto que precisavam para entregar os destinos da nação a um político sem qualquer experiência e que sua trajetória não apresentava nada de relevante. Muito pelo contrário, Bolsonaro tinha histórico para ocupar cadeira cativa em qualquer hospício.
Como disse Marx: “Primeiro como tragédia, depois como farsa”. Podemos fazer o trocadilho e dizer que a tragédia virou farsa. Guedes teoricamente seria o representante do capitalismo global, parte da utopia democrática-liberal, que seria capaz de garantir liberdade individual, capitalismo de mercado e prosperidade para as classes médias. A Bolsonaro caberia ser mais um Bonaparte. No caso uma mistura de comandante insano e bobo da corte, o qual não representaria obstáculos aos liberais.
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O roteiro parecia perfeito. Atrelado a isso existia uma tendência mundial capitaneada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Porém, assim como no país mais rico do mundo, os preceitos liberais não foram capazes de apontar alternativas que garantissem melhoria econômica consistente e reflexos positivos para além de banqueiros e especuladores. A classe média que dava respaldo politicamente a Bolsonaro começou a reagir negativamente e os farsantes não conseguiam mais sustentar suas bravatas.
No caso específico do Guedes, temos algo ainda mais sério. O banqueiro mostrou que pior que orquestrar uma farsa liberal, é completamente inapto a função. Sua condução equivocada trabalha para desestruturar o Estado Brasileiro, com venda do patrimônio nacional, favorecimento total a especuladores, concentração de renda e uma visão desumana. O ministro chega a propagar a necessidade das pessoas morrerem mais cedo e reduzir o custo do setor público. Sobraria ainda mais recursos direcionados ao setor privado.
Além do lado tirano que manifesta em suas decisões, também tem pouca habilidade política, visto que suas falas provocam instabilidades constantes nos mercados, altas do dólar, combustíveis nas alturas e atritos com os principais parceiros comerciais do Brasil.
O Posto Ipiranga foi rebaixado a categoria de borracharia cheia de gambiarras. O pior é que a crueldade de Guedes é nociva, capaz de matar de fome milhões de pessoas, quando em plena crise sanitária mantém seu receituário liberal. Deixa claro que não tem capacidade de análise econômica sequer para copiar políticas anticíclicas e de salvamento que garantam a sobrevida e capacidade de reação do país.
Parece absurdo? Não! Alguém com o perfil de Guedes que abraça Bolsonaro como alternativa antes mesmo de ser eleito, estava certo que iria “passar o rodo” e condenar o país ao aumento absurdo da concentração de renda e empobrecimento da maioria da população. Pior quando mostra seu lado vira-latas, que tenta a todo custo mostrar serviço para os patrões americanos e torna a China alvo com relação a qualidade das vacinas produzidas e faz comparações com as vendidas pela Pfizer, uma empresa americana.
Guedes entende muito pouco sobre economia. Sua especialidade é especulação. Certamente, não é referência científica para opinar sobre vacinas e capacidade do Sistema Único de Saúde para atender à população brasileira. Já demonstrou seu pavor a qualquer mecanismo de distribuição emergencial de renda. Carrega o cinismo dos liberais para com os mais pobres, quando enche a boca para propagar um auxílio de R$150,00.
O Ministro da Economia do Brasil é parte da tragédia e ator na farsa. Seu papel de conselheiro de Bolsonaro no que diz respeito a economia se diluiu na própria ignorância. Guedes de Posto Ipiranga não tem nada. Sua participação está restrita ao aumento nos preços. Seu protagonismo limita-se a reafirmar o caráter desumano desse governo, o qual serve em total consonância.