Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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Legado olímpico
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Imagem de divulgação da abertura dos Jogos de Paris 2024 (Foto: Divulgação/Comitê Olímpico Internacional)

Em meados de 2015, auge da crise do Governo Dilma, entre os motivos para ataques políticos estavam os gastos supostamente excessivos com infraestrutura para que o Rio de Janeiro pudesse sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Como justificativa, o governo se defendia alegando o “legado olímpico” que ficaria para o Brasil. Nessa defesa para blindar a imagem da presidente em relação às Olimpíadas estavam todos os equipamentos públicos que ficariam para sempre na capital carioca, sendo eles esse tão falado “legado”. Eu assistia com tristeza à incapacidade do governo em falar do que realmente importa, reduzindo a pedra e cal toda a relevância de reunir os melhores atletas do mundo das principais modalidades esportivas em um grande evento. O esporte deixa sim um legado, muito maior do que as obras realizadas na cidade.

Hoje, com meus filhos encantados enquanto assistem pela TV à primeira Olimpíada, vejo o quanto valorizar o esporte faz diferença para as crianças. Minha menina, aos dois anos, pulou de alegria quando viu em quadra o time de handebol feminino. Olhou para a mãe e disse: “Olha, mamãe, são só meninas!”. Representatividade importa muito. Nessas cenas cotidianas, na sala de casa, lembro de mim, lá em 1992, vibrando por Tande, Marcelo Negrão, olhando o aperreio dos meus familiares na torcida, reproduzindo o sofrimento, as preces, o êxtase. Foi o primeiro ouro olímpico de que me lembro. Nem por isso virei jogador de vôlei, nunca levei jeito para jogar nada com bola, mas desde então passei a olhar para as competições esportivas com afeto.

O legado olímpico é muito mais do que as obras que se constroem. A mensagem do esporte transmitida para o mundo não tem preço. Superação, resiliência, disciplina. Esporte é essencial para a saúde humana, indutor de desenvolvimento e também formador de caráter. Em tempos de gerações cada vez mais capturadas por telas e vídeos curtos, defender o esporte torna-se necessário para a saúde coletiva, física e mental.

Nos Jogos de Paris, um dos pontos que mais me chamou atenção desde que começou a preparação da cidade para receber o evento foi a limpeza do rio Sena. Mais de 1 bilhão de euros para salvar um rio. É muito dinheiro, mas ainda é pouco diante da causa. Talvez o maior investimento da história da humanidade feito para um evento, porém com viés ambiental. O rio mais fotografado do mundo; o mesmo que foi ‘palco’ para uma abertura inédita, com atletas e delegações desfilando em barcos, hoje ganha nova vida. Quanto vale uma floresta? Quanto vale um rio?

Para além do legado esportivo, os Jogos de Paris deixam a marca do resgate ao planeta. Esporte é vida, mas para que haja vida, é preciso preservar. Colhemos hoje os frutos de toda a degradação, sob risco iminente de não ter como recuperar. O aquecimento global piora a cada ano, as florestas diminuem, a qualidade do ar só cai, e as previsões apontam para o risco de um colapso pela falta de água no mundo. O legado de Paris é esportivo, mas também ambiental.

Texto publicado originalmente na edição impressa de 02.08.2024 do jornal A União.

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Palavras-chave
olimpíadas 2024