“Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. A máxima reproduzida por quem luta a favor do movimento negro e ao lado do enfrentamento ao racismo parece dizer o óbvio, porém, está implícita uma cobrança por posicionamento daqueles que se dizem progressistas, ou até alinhados ao campo político mais à esquerda. E quando não se posicionam, fica evidente quem é quem no combate ao racismo. Na Paraíba, a política de enfrentamento ao racismo nos estádios só entrou em vigor graças à ajuda de parlamentares da direita, pois três ditos “de esquerda” optaram por não votar.
A votação para derrubada do veto do governador João Azevêdo (PSB) ao projeto de lei (PL 514/2023), de autoria da deputada Cida Ramos (PT), que institui no estado da Paraíba a política estadual “Vini Jr.” de combate ao racismo nos estádios e arenas esportivas, nem precisava de polêmicas. Alguns deputados chegaram a dizer em plenário que o veto deveria ser derrubado de modo unânime, tamanho o entendimento de que o enfrentamento ao racismo é dever de todos. O próprio líder do Governo na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), deputado Chico Mendes (PSB), liberou a bancada governista para que o veto fosse derrubado. Assim, o cenário se desenhava para uma votação esmagadora.
Porém, pelo regimento, o veto não cai por uma vitória simples, é preciso maioria absoluta. São necessários 19 votos para a derrubada de um veto. Após ouvir o posicionamento do líder do governo, o presidente da Casa, deputado Adriano Galdino (Republicanos), deu a entender que a votação estava tranquila. Ele é um dos parlamentares que costuma se posicionar em defesa das causas mais alinhadas às políticas de esquerda e do Governo Lula. Galdino pediu licença para receber um desembargador e saiu da sessão.
Em seguida, deputados de direita como Walber Virgolino (PL) e Sargento Neto (PL) também votaram a favor da lei de enfrentamento ao racismo. Mas apesar da ajuda da direita, faltavam votos. Chamou atenção o posicionamento dos demais parlamentares que se dizem de esquerda, estavam na sessão, seja em modo presencial ou remoto, conforme mostra o painel, e mesmo assim optaram por não votar. A Lei Vini Jr. de combate ao racismo estava prestes a ser arquivada. Chico Mendes, após liberar a bancada governista, manteve o voto contra. Inácio Falcão (PCdoB) registrou abstenção, enquanto Luciano Cartaxo (PT) ficou em silêncio. Depois de diversas chamadas para registro de voto dos parlamentares, o veto alcançou o mínimo necessário para a derrubada.