Paraibano, engenheiro civil, mestre em Engenharia de Transportes na University of Illinois e humanista.
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L’État, c’est moi!
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Foto: Fotos Públicas – Romeu Escanhoela

‘’O Estado sou eu’’. Essa frase foi supostamente dita (alguns historiadores duvidam da veracidade do fato) por Luís XIV, o rei Sol, em 13 de Abril de 1655. Ela simboliza o absolutismo monárquico e o enfrentamento ao parlamento, promovido pela autoridade real francesa. Imaginar essa cena, vindo do mais alto integrante do palácio de Versailles, menos de um ano após sua coroação e no auge de sua forma física não é tarefa difícil. Toda a conjuntura favorecia esse tipo de atestação própria de poder e, frente as instituições francesas da época, não havia muito a ser feito. 

Entretando, fato curioso aconteceu no dia 29/10/2020, no Brasil, quando o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, contestando o governador de São Paulo, João Dória, disse que não iria comprar a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan. No pronunciamento, Bolsonaro diz as seguintes palavras: “Eu, que sou o governo, o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar a sua vacina também não!”. 

Por que os dois parágrafos, com fatos históricos separados por 366 anos, podem ser mencionados no mesmo texto? Luís defendia o absolutismo monárquico e ligava-o ao direito divino. Jair, por sua vez, nega as instituições democráticas brasileiras e defende seu projeto como desejo deífico. Ao dizer, ainda, ser o governo, os dois flertam com uma ideia de poder supremo, onde nada além dos pensamentos de sua cabeça pode liderar vossas nações. 

Contudo, o rei francês exclamou essas palavras enquanto figurava como um dos monarcas mais poderosos da época, em termos econômicos, militares e institucionais. Nosso camarada brasileiro o faz em meio a maior crise sanitária dos últimos cem anos, em um panorama econômico e institucional decadente, frente a uma nação que caminha a passos largos para o precipício. Esse fato mostra a real face do Governo e me faz concordar com Bolsonaro. Ele realmente é o Estado (dos últimos 4 anos)! Ineficiente, preconceituoso, ignorante e mal intencionado.

As comparações acabam por aqui! É um trabalho muito árduo colocar um rei e um moribundo sob a mesma perspectiva. Luís, ao morrer, foi para o mausoléu da Basílica de Saint-Denis, ao norte de Paris e é tido como um dos maiores líderes da monarquia francesa. Jair, ao partir, será condenado ao esquecimento e, no melhor dos casos, lembrado como o pior erro da história democrática do País.

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