Mãe, mulher, jornalista e repórter da TV Câmara de João Pessoa. Escritora de crônicas nunca publicadas.
Mãe, mulher, jornalista e repórter da TV Câmara de João Pessoa. Escritora de crônicas nunca publicadas.
Não é sagrado, mas é lindo
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Fiquei grávida aos 28 anos de idade. Na época, já intuía que ser mãe deveria ser um dos grandes prazeres dessa existência louca e sem garantia que a gente entra sem ter ensaiado. Eu não sabia como seria minha vida profissional, nem se seria feliz no amor, nem se encontraria Jesus, Buda, ou uma fé qualquer na qual me apoiar, mas tinha uma desconfiança boa e reconfortante de que a maternidade me daria algum sentido. E eu não estava enganada.

Tirando o fato de que engordei 23 quilos e que tive leite suficiente pra alimentar com meu próprio corpo minha menina e todo o berçário de uma maternidade — o que não me deixou em estado sagrado —, a maternidade de fato mudou completamente o filme da minha vida, me dando pequenas alegrias diárias, como ver uma filha aprendendo a ler ou presenciar uma criança sensível virar uma garota legal.

Minha menina é uma garota legal. Nove anos depois e eu penso em ser mãe novamente. Sim! Eu imagino que se o dia a dia com um já é de uma doçura sem fim, com dois a festa deve ficar ainda mais bonita.

Os desenhos de aquarela na parede branca, o cinema em dia de semana, os primeiros dias de aula, as idas à praia e ao parque e, “agora”, o maior de todos os desafios que a vida propôs a mim e a ela nesses nove anos: mais de seiscentos dias em casa, mil e quinhentas horas. Sozinhas. Trancadas. No nosso infinito possível e particular. Descobrindo o mundo, sem pureza, mas com entrega.

Ser mãe, nesse planeta virado do avesso, é uma atitude de guerrilha, e a minha trincheira é a do amor, custe o que custar. Dói nela, dói aqui, e às vezes penso que educar minha filha pra acreditar no outro é sofrimento garantido ou seu dinheiro de volta, mas, mesmo assim, vou em frente sem olhar pra trás. Ser bom é o norte, e isso importa mais do que aprender inglês, ganhar dinheiro ou ter reconhecimento profissional.

Minha vaidade é essa, e o discurso pra ela no fundo é também pra mim. Crescer por amor.

Não sei se um dia vou estar pronta pra ser deixada de lado, que é exatamente o que deve acontecer — se tudo der certo. Ser a pessoa mais especial da vida de uma outra pessoa, e ainda mais do cromossomo xy, dá um prazer imenso, e não tenho medo de admitir que há inclusive certo narcísico nessa tal maternidade.

Não é sagrado, não é pra todo mundo, não tem Procon, mas é muito provavelmente a coisa mais bonita que já me aconteceu.

Não sigo nenhuma cartilha de educação, e não sei se o caminho que venho escolhendo com ela é o mais correto, mas quando olho pra Lis e a vejo aprendendo a cozinhar ou inventando um trabalho que podemos fazer juntas, ou escolhendo o próximo disco de Caetano que vamos ouvir, tento agir naturalmente, mas a verdade é que tô sentada no ingresso mais caro do melhor show da vida.

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