Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
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O bicentenário da independência e o coração de D. Pedro I
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Coração de Dom Pedro I é guardado em um recipiente de vidro, dentro de uma urna (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Neste ano de 2022 o Brasil comemora o bicentenário de sua independência, ocorrida no fatídico 7 de Setembro pelo então príncipe D. Pedro I. É bem verdade que o país tem pouco a comemorar em uma data tão importante de sua trajetória, diante de crise e de dificuldade que o povo brasileiro tem passado. É um momento de reflexão, onde o brasileiro terá de escolher quem irá governar o país no próximo quadriênio. Um típico aniversário introspectivo onde olhamos pra trás, para o que vivemos, mas nos preocupamos com o futuro, com o que queremos…

O certo é que este texto não busca trazer esta reflexão, ela precisa ser feita não só individualmente, mas também coletivamente, como nação. O texto de hoje faz uma alusão ao personagem D Pedro I, um daqueles personagens que merece uma lida em uma biografia por se tratar de uma vida, no mínimo, curiosa. D Pedro I nasceu no Palácio Real de Queluz em 12 de Outubro de 1798 e tornou-se sucessor do trono português com a morte prematura de seu irmão Francisco Antonio. Em 1808, aos 9 anos de idade, chegou junto com a corte portuguesa para o Brasil em razão das Guerras Napoleônicas na Europa.

D. Pedro I, apesar de tudo, foi letrado para ser o futuro rei e, por isso, era conhecedor de obras iluministas, além de ter se tornado músico. Em sua personalidade, entretanto, apresentava característica bastante impulsiva, agia sem refletir sobre as consequências de seus atos, era extremamente passional. Tal comportamento provavelmente foi reflexo de seu convívio com a relação problemática de seus pais, D João VI e Carlota Joaquina, que apesar de serem casados, mantinham uma relação conhecida por traições e conspirações por parte de Dona Carlota. Talvez por isso D Pedro I tenha se afeiçoado pelo pai, que apesar da relação distante, se sensibilizou com as humilhações que sua mãe trouxe ao próprio pai.

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Costumo brincar que D. Pedro era um tarado inveterado, aventurou-se como quis e não era seletivo para com as mulheres com quem se deleitava, bastava ser mulher. Continuo a brincadeira aludindo a personalidade forte e impulsiva que possuía como uma herança de sua mãe espanhola, apesar de ter guardado rancor e desprezo por ela. A verdade é que D. Pedro foi fruto do mundo que viveu, não só do meio familiar, mas do meio social. Mesmo sendo conhecedor das ideias liberais da época, que construíram revoluções, D. Pedro mostrou-se mais tarde, quando se tornou imperador do Brasil, um governante autoritário voltado às práticas de seu próprio pai diante do modelo absolutista.

Foi criado no Brasil e tornou-se protagonista de um dos fatos históricos mais importantes do Brasil, o grito do Ipiranga. Coroado em 1822 imperador do Brasil, aos 24 anos, tinha a difícil missão de manter a integridade nacional em um país onde os brasileiros não se sentiam brasileiros. Impôs-se com a constituição de 1824, lutou contra movimentos contrários ao seu governo e recusou a coroa de Portugal quando da morte de seu pai, em 1826, abdicando em favor de sua filha.

Em menos de 10 anos de governo como imperador, diante da grande instabilidade e da rejeição que se montou contra ele, acabou abdicando também do trono brasileiro. Depois de tantas aventuras políticas e sexuais no Brasil, retornou a Portugal para defender a própria filha de seu próprio irmão, D. Miguel, que conspirou e reivindicou para si a herança de D. João VI. Lutou em Portugal e pediu que, em sua morte, seu coração deveria ficar na cidade do Porto, reduto de sua força na guerra contra o próprio irmão. No fim, D. Pedro com apenas 35 anos, morreu de tuberculose no mesmo palácio em que nasceu, fato no mínimo romântico.

Seu coração, pela primeira vez, veio visitar o resto de seu corpo que está aqui no Brasil desde 1972. Sim, o coração de D. Pedro foi retirado de seu corpo e seu desejo foi atendido. Guardado há 187 anos em um recipiente de vidro e conservado em formol, o coração de Dom Pedro I, o primeiro imperador do Brasil e responsável histórico pela independência do país, normalmente fica guardado em uma urna de madeira trancada a cinco chaves na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, localizada na cidade do Porto, noroeste de Portugal.

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