O que pensa o Termômetro da Política
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O gambito do Gaeco
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(Fotos: Reprodução/Instagram)

Quando o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba (MPPB) deflagrou a operação Xeque-mate, em abril de 2018, afirmava ter desbaratado uma quadrilha instalada na Prefeitura de Cabedelo. Segundo a denúncia, agentes públicos praticavam crimes diversos e entre seus principais integrantes estavam o prefeito Leto Viana, um grupo de vereadores e o empresário Roberto Santiago. Naquele momento, diversas pessoas foram presas, deixando a cidade sem governo e a Câmara Municipal desfalcada.

Na sequência, os vereadores que sobraram, mais os suplentes que tiveram que assumir, compuseram uma nova Mesa Diretora e elegeram para prefeito interino o vereador Vitor Hugo. A nova gestão foi composta pelo que sobrou dos políticos com mandato na cidade de Cabedelo. Teoricamente por não terem envolvimento que impedisse exercer o cargo, visto que o Gaeco não pediu a prisão dos mesmos.

Três anos depois, no encerramento dos trabalhos da Operação Xeque-mate, após o atual prefeito ter sido eleito e reeleito, apresentam denúncia pedindo a condenação do mesmo por contratação de funcionários fantasmas e que, junto com outros vereadores, seriam os responsáveis por dar continuidade à quadrilha comandada por Leto Viana.

A peça apresentada pelo Gaeco faz alguns exercícios de suposição. De tudo que está dito na denúncia, o que pareceu merecer explicações é o fato de três pessoas terem sido arroladas como fantasmas a serviço do Vitor Hugo. Essas pessoas exerciam outras atividades em paralelo aos empregos públicos que tinham em Cabedelo, sendo assim, o Gaeco entendeu ser suficiente para provar a denúncia. Vale ressaltar que ainda pode existir explicação.

Em outro momento da denúncia o Gaeco afirma, com base em imagens de uma reunião no Recanto do Picuí Intermares, que os suspeitos estavam tramando, a mando de Leto Viana, para que Vitor Hugo e outros vereadores que comporiam a nova Mesa da Câmara assumissem o controle da suposta organização criminosa.

Mais uma vez a denúncia fica no campo das suposições. O conteúdo do diálogo não é divulgado e o Gaeco faz cruzamentos de horários de ligações como provas para uma suposta armação. Quem conhece como são as articulações para composição de Mesas Diretoras no Legislativo sabe que não existe nada de anormal na troca de ligações. Como não apresentou alguma conversa que sirva de prova para o que supõe, o Gaeco novamente joga com a moral e esquece que precisa existir materialidade para se acusar de forma tão assertiva.

Porém, existem alguns pontos que o Gaeco nunca explicou com relação à Operação Xeque-mate em Cabedelo. Se existiam elementos para denunciar Vitor Hugo no início da operação, por que não foi pedido seu afastamento ou prisão? O principal delator do esquema, ex-presidente da Câmara de Cabedelo, Lucas Santino, conseguiu emplacar sua esposa, Priscila Rezende, como secretária da Mulher na gestão do prefeito Vitor Hugo (DEM), enquanto sua sogra, Graça Rezende (DEM), foi eleita vereadora e presidente da Câmara. Não parece estranho tanto sucesso político e alinhamento com o prefeito?

Para além disso, o Gaeco precisa explicar essas incoerências. Com base no encerramento da operação, fica parecendo que escolheram tirar Leto do governo para colocar alguém que lhe parecia mais simpático ou que resolveram criar denúncias para requentar uma investigação superficial e sem provas consistentes. Não adianta fazer espetáculo e depois não apresentar resultados que mostrem lisura e coerência. Dessa forma, o xeque-mate pode virar gambito.

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