Foram “seis mandados de prisão temporária e seis de busca e apreensão contra um grupo suspeito de roubar bancos”, expedidos pela Vara Única da Justiça Federal em Muriaé, Minas Gerais, de acordo com a notícia publicada pela Agência Brasil. Uma ação em tese necessária. O que chamou atenção para além do desnecessário foi o nome escolhido para batizar esta operação da Polícia Federal deflagrada na terça-feira (26): Magia Negra.
Não foi apenas desnecessário, deselegante, descabido. Titular uma operação da Polícia Federal como “Magia Negra” é criminoso. A expressão absolutamente pejorativa atenta contra todos os cultos de matrizes africanas e reforça o ciclo de preconceitos sobre rituais que supostamente seriam feitos para desejar o mal aos outros. Associar “magia negra” às religiões de origem africana marginaliza todos os membros, colocando-os na condição de algozes sociais em potencial.
O termo “magia negra” usado em conjunto para nomear uma operação da Polícia Federal já pode ser entendido como intolerância religiosa. Se for desmembrado, também é racismo, pois ao remeter a negritude a um tipo de poder oculto manipulado para a prática do mal, a palavra “negra” deixa a ideia de que existe uma outra magia, oposta em cor e intenção, como se o negro fosse ruim e maligno.
É preciso explicar que o nome escolhido para designar uma operação da Polícia Federal não se trata de algo meramente procedimental. O nome de cada operação é divulgado pela imprensa, e muitas delas são marcadas, entram para a história carregando seus nomes. Em seguida, quando há desdobramentos, é ao nome da operação que sempre se menciona.
A Polícia Federal difundiu intolerância religiosa e racismo. Quem paga a conta pelo dano causado a todos os filhos e filhas de santo aviltados em seu credo? Quem será punido pelo racismo? São crimes gravíssimos. É preciso que haja reparação social e punição aos envolvidos.