O Partido dos Trabalhadores é formado por diversas correntes políticas. Parte da riqueza do partido está na capacidade de garantir pluralidade de pensamentos com unidade na ação. Por mais disputas internas que existam, o partido sempre foi preservado. Mas existem aqueles que em determinado momento disseram que o PT não servia mais, que as mazelas e acusações de corrupção poderiam lhes prejudicar em seus projetos individuais.
Em outros tempos, seria uma heresia alguém ser eleito pelo partido, ter toda militância e estrutura, no mandato usufruir de relação privilegiada com a União, visto que a Presidente da República era também do PT e, depois, se desfiliar alegando que a sigla não era mais digna da sua participação. Esse foi o roteiro da trajetória de Luciano Cartaxo no PT da Paraíba.
Após não fazer seu sucessor na prefeitura de João Pessoa, acumular derrotas do irmão para senador e governador, Luciano Cartaxo retorna ao PT e, para espanto de todos, para fazer uso da legenda numa eleição a deputado estadual. Pra completar, ainda especulam que exige indicar o candidato a vice na chapa majoritária apoiada pelo PT.
Alguém pode explicar o que ganha o PT com essa candidatura de Luciano a deputado? Será que tem quem pense que Luciano estaria em condições de transferir votos em João Pessoa para Lula, se nas eleições para prefeito sua candidata ficou em quinto lugar, com uma votação vergonhosa de apenas 47 mil votos?
Não bastasse o PT ter sido entregue a Ricardo Coutinho, como fazem os partidos mais conservadores, que trocam de dono sem respeitar instâncias e decisões partidárias, agora, vira sigla de aluguel para servir a interesse particular de quem mostrou não ter qualquer compromisso coletivo e abandonou o partido no momento que mais precisava de apoio.
No caso de Ricardo Coutinho ainda existe a seu favor o apoio que prestou a Lula quando foi condenado e a postura contrária ao golpe sofrido por Dilma. Mesmo assim, soa estranho a forma como o partido passou a ter uma direção paralela extra-oficial, que deixa claro que o Presidente do Diretório Estadual, Jackson Macedo, apenas referenda as decisões tomadas por Ricardo.
Além disso, o PT parece ter aderido ao que existe de mais conservador na política, que é o loteamento dos espaços partidários por parentesco. Segundo o que se especula, a chapa que o partido trabalha para formar na Paraíba teria como candidato a governador o senador Veneziano Vital do Rêgo, com a mulher ou o irmão de Luciano Cartaxo na vice. Para o Senado, Ricardo Coutinho seria o candidato com sua mulher de primeira suplente e Ana Claudia Vital, esposa de Veneziano, seria candidata a deputada.
Qualquer semelhança com práticas que remetem aos tempos mais arcaicos das políticas brasileira e paraibana não é por coincidência, mas sim por total falta de coerência com a história do PT e o entreguismo do partido a interesses pessoais. Vale lembrar que estes que hoje usufruem, no passado relegaram o PT.
Mas o que teria o PT hoje de tão sedutor? Por que o partido resolveu optar por essa lógica conservadora que antes dizia abominar? A primeira pergunta é fácil de responder. A perspectiva de eleição de Lula, com margem grande na Paraíba, fez o oportunismo eleitoral sobressair. Até quem antes queria distância e se omitiu na eleição que fez de Bolsonaro presidente, quer se pendurar na popularidade de Lula e fazer uso dos votos da legenda para garantir um cargo.
A segunda é uma incógnita sem aparente solução. Em um estado em que o maior cabo eleitoral é Lula, quem precisa de quem? Sem contar que o governador João Azevêdo (Cidadania), o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (PSB), e a maioria absoluta das lideranças da Paraíba já declararam apoiar Lula para presidente, o que leva o PT a virar uma sigla de aluguel loteada particularmente?
Se a eleição de Lula é a prioridade para o PT, na Paraíba resolveram dividir o que é quase uma unanimidade. Dizer que haverá só um palanque de Lula na Paraíba e que o governador João Azevêdo está excluído soa estranho e prepotente. Ainda mais quando o discurso de que o governador teria aliados que apoiam Bolsonaro deixou de ser parâmetro faz tempo. Afinal, o possível vice de Lula se omitiu em 2018 e o PT da Paraíba aceita hoje até quem votou em Bolsonaro e apoiou o golpe em Dilma. Neste cenário nebuloso, tem muita coisa que precisa ser explicada.