Todos os anos em nossa cidade, no final do mês de julho, rememoramos de alguma maneira os fatos ocorridos em 1930 que mudaram a história da cidade, do Estado e do País. Me refiro ao assassinato do então presidente da Paraíba, João Pessoa. Já tem algum tempo que não só na capital paraibana como também em outras regiões do estado é possível perceber um conjunto de ações de um grupo de pessoas mobilizadas por um mesmo fim: colocar em xeque a consolidação de uma memória.
Este é um dos ricos momentos para pensarmos sobre a relação da História como ciência especializada e a vida prática. Todos estes debates, ainda atuais, nos levam a entender que as disputas pela Memória e pela História nunca foram cessadas. A sociedade busca, cotidianamente, eleger suas referências, mas as disputas muitas vezes estão pautadas em questões políticas e não históricas, ou seja, se trata de legitimar, ou não, a supremacia de grupos políticos que atuaram no cenário paraibano nos últimos cem anos. Penso que questões como esta podem estar como pano de fundo imbricado neste debate.
Escapar das armadilhas do trabalho com o passado deve ser a busca de todo historiador, mas verificamos que nem sempre é uma prática. Muito pelo contrário, por vezes somos muito pouco atentos a estas implicações e seus desdobramentos, ao qual julgamos subjetivos demais para considerarmos para quem está acostumado em lidar com a objetividade dos documentos. Queiramos ou não, aceitemos ou não, a História que escrevemos está necessariamente determinada por um paradigma, por uma maneira de construir o mundo. E se assim é, melhor que tais paradigmas sejam claros e objetivos.
A percepção de que a verdade é produzida e não revelada traz a possibilidade de rebater a ideia de que certos discursos são inquestionáveis. Qualquer interpretação é, indiscutivelmente, parcial e situada. Há uma linha tênue entre a produção da História e o nosso interesse em que ela tenha ocorrido da maneira que produzimos.
O efeito sobre a vida prática é sempre um fator do processo de conhecimento histórico, de tipo fundamental, e deve ser considerado parte integrante da matriz disciplinar da ciência da História. Com seu trabalho científico, os historiadores podem e querem produzir efeitos.
A tarefa nobre da ciência da História seria de fornecer à sociedade orientações que promovessem o reconhecimento das diferenças entre partes em conflito, ao invés de subtrair e silenciar. A disputa entre Parahyba e João Pessoa nada mais é do que uma disputa pela Memória e pela História que nos demonstra a importância e a função social da História.