As pessoas normalmente se comovem com a morte. Isso, no entanto, não é uma verdade absoluta. Afinal, para muitos, nem sempre os mortos eram sujeitos dignos de viver, donde decorre uma seleção não declarada, mediante diferentes filtros: cor, etnia, origem, religião, gênero etc. Porém, existe um fator que unifica os indignos: a condição econômica.

Afora as raras exceções, a morte por conflitos e violências atinge quase exclusivamente os mais pobres e vulneráveis. Assim, podemos afirmar que o mais cruel dos filtros é a desigualdade social, que atua cotidianamente e promove chacinas diárias em diversas regiões do planeta. Porém, a morte resultante da pobreza não é tratada com o mesmo espanto das que decorrem de guerras, principalmente se o pobre ataca o rico.

É difícil para o mundo, mesmo quando a informação é divulgada por tantos meios de comunicação, conceber que existe um conflito perpétuo, estabelecido pela opção consciente que fez a humanidade por sociedades divididas em exploradores e explorados. Não é uma condição recente. Os modelos apenas sofreram aprimoramento: escravagismo, feudalismo e capitalismo. A finalidade sempre foi aumentar a exploração.

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Os filtros aos quais nos referimos, anteriormente, serviram para justificar a dominação e, consequentemente, a indignidade dos dominados. Dessa forma, a morte em decorrência da desigualdade extrema sempre foi tratada como condição natural. Falta de mérito. Logo, não é uma situação que mereça holofotes ou a comoção generalizada.

Mesmo diante da morte como única opção aos indignos não lhes será dado o direito de reação, muito menos de forma violenta. Afinal, a desigualdade mata de forma silenciosa e silenciada. O direito de levantar a voz ou as armas é restrito ao opressor, por ser legítima a coerção aos que se insurgem.

Quando quem utiliza da violência é o oprimido, este facilmente é taxado de criminoso ou de terrorista. As alegações de que nada justifica a violência imediatamente afloram. A vida deixa de ser um direito relativo para tornar-se absoluto. As agressões cotidianas deixam de ser justificativas para que o instinto de sobrevivência dos agredidos seja maior que a racionalidade.

As teses sobre quais são formas legítimas de reivindicação aparecem aos montes. Os valores humanitários mais nobres são ressaltados. Nesse momento, os opressores passam a ser vítimas e os oprimidos agressores. Os mortos do lado do opressor serão homenageados, até lembrados de forma heroica, enquanto os mortos do lado oposto serão esquecidos e renegados.

Diante de tanta crueldade a desigualdade permanecerá inalterada. Seguirá mais célere, com nuances ainda piores. O extermínio não será apenas de forma lenta provocado por fome e pobreza. Um salvo-conduto para matar quem pareça perigoso será dado em nome da defesa do seu povo. Mas, apesar das condições objetivas serem inquestionáveis, haverá quem diga que a paz é possível, sem que nada seja feito para diminuir a distância real entre pobres e ricos.

Quem promove a desigualdade não quer a paz. A guerra na Palestina não começou com o primeiro tiro. O povo palestino será exterminado por Israel com o apoio direto dos Estados Unidos, Europa e tantos que se dizem humanos.