Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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Polêmicas olímpicas
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Imane Khelif (Foto: Reprodução/Instagram)

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 começaram com uma polêmica logo no início. A representação de um banquete na cerimônia de abertura irritou cristãos por todo o planeta. Religiosos argumentaram de pronto que a cena com dançarinos, drag queens e pessoas fantasiadas de forma festiva simbolizava uma zombaria ao cristianismo, sob suposta paródia às imagens da Última Ceia, de Jesus com os apóstolos. 

Mesmo que fosse, a Última Ceia já foi parodiada até por Maurício de Sousa, com uma cena composta por personagens da Turma da Mônica. 

De toda forma não foi. A referência inspiradora da cena em questão foi o quadro “A Festa dos Deuses” (1514), de autoria do italiano Giovanni Bellini. Logo após a polêmica, em entrevista ao canal francês BFM, o cerimonialista e diretor criativo Thomas Jolly, responsável pela representação artística em Paris, disse que a ideia era “fazer uma grande festa pagã ligada aos deuses do Olimpo”.

Ao reunir atletas de diversos países para disputas no maior evento esportivo do mundo, é importante ressaltar que os Jogos são – e devem ser – dissociados de qualquer religião. Dito isto, ressalte-se também a liberdade de criação artística. A sensação após tanto rebuliço causado com a cena na abertura é de que houve exagero por parte da ala conservadora. Vale lembrar que as Olimpíadas acontecem em Paris, capital da França, país que recentemente derrotou nas urnas o avanço do grupo conservador que tentava assumir a maioria das cadeiras no Legislativo. 

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Conservadores estão por toda parte do mundo. Nada contra, tenho até amigos que são. O pior deles não é a expressão de seu ponto de vista, mas a difusão de informações falsas a fim de confundir a opinião pública. Foi assim logo de cara em Paris, na abertura. Dias depois, os alvos dos conservadores foram – e vêm sendo – as atletas intersexo que disputam no boxe feminino. Vejam como o modelo se repete: difundem fake news com o objetivo de disseminar o caos. Na abertura, não era a Santa Ceia sendo difamada. No boxe, não são atletas trans, homens que se identificam como mulheres competindo contra mulheres. São mulheres contra mulheres. A argelina Imane Khelif nasceu mulher, tem útero, mas por causa de uma disfunção vem sendo alvo da onda de ódio propagada por conservadores. 

A discussão sobre atletas trans competindo em modalidades após mudança de identificação de gênero é extremamente complexa. Não me considero conservador, e assim mesmo não concordo que um homem, que treinou anos como homem, competiu como homem, mude de gênero e enfrente mulheres, mesmo fazendo terapia de bloqueio hormonal e passando em todos os testes. Por favor, não me cancelem, posso estar falando hoje uma besteira e no futuro rever meu posicionamento. Usei opinião pessoal como exemplo para ilustrar que não faz diferença nenhuma o que penso a respeito da discussão em torno das atletas que competem em Paris. Elas não são atletas trans, são mulheres. Ponto. 

Sim, foram impedidas de disputar o mundial de boxe, mas quem usa isso como argumento também omite que a entidade organizadora do mundial foi banida do comitê olímpico e que é toda enrolada em denúncias de corrupção e arbitrariedades. Notícia enviesada só serve a quem quer manipular opinião. No boxe, assim como nos outros esportes, torço para que vençam os melhores e as melhores. 

Texto publicado originalmente na edição de 09.08.2024 do jornal A União.

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