Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
ads
Putsch de Brasília
Compartilhe:
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Como já debatemos antes, a última eleição que trouxe recordes: Lula melhorando sua marca de presidente com maior número de votos da História do país e Bolsonaro quebrando a regra da eleição, se tornando o primeiro presidente a não ser reeleito no Brasil. Este, depois que perdeu a eleição, parece ter perdido a vontade de governar, aquele velho chavão de que o café esfriou. Passou dias sem se pronunciar e tocou o final do mandato como quem desengrena um carro ladeira abaixo. Não fez o pronunciamento à nação no último dia do ano e viajou para os EUA, negando participação na cerimônia de posse do novo presidente. Para muitos bolsonaristas, uma atitude covarde e de falta de consideração para com seus apoiadores.

No dia 1 de Janeiro de 2023, Luis Inácio Lula da Silva sobe a rampa para consumar seu recorde. Uma cerimônia fora do padrão, que contou com a participação de representantes do povo que outorgou-lhe a faixa presidencial, dando todo um sentido romântico e simbólico diante da ausência do ex-presidente. No dia 8 de Janeiro de 2023, entretanto, o palco de toda esta cerimônia foi devastado pela ação de centenas de pessoas que marcharam em direção aos palácios dos poderes da República com intenções duvidosas. Há quem diga que se tratou apenas de uma manifestação, há quem diga que foi uma tentativa de golpe. Qual era a real intenção destes cidadãos que, munidos da camisa da CBF e da bandeira nacional, profanaram os símbolos da República?
Seria tomar os palácios e aguardar o engajamento das forças armadas para promover uma intervenção militar? Uma versão tupiniquim do Putsch de Munique? Os acontecimentos de 8 de Janeiro foram um atentado ao povo brasileiro, um atentado ao Estado Nacional, uma profanação dos símbolos democráticos de nossa República. Nunca ocorreu algo desta magnitude em toda a História do nosso país, embora tenha gente tentando justificar o que ocorreu dizendo que a esquerda também o fez no passado o que, para mim é, no mínimo, canalhice. Se esse é o ponto, finalmente está claro quanto a extrema direita se tornou aquilo que ela sempre combateu: vagabundos.

Clique aqui para ler todos os textos da coluna Moral da História

Não estou debatendo a facilidade com que os supostos manifestantes tiveram acesso aos palácios, não estou debatendo a morosidade das forças responsáveis pela segurança do patrimônio, não estou debatendo se o movimento foi de esquerda ou de direita, embora eu considere a postura de Bolsonaro, no mínimo, irresponsável. Não estou lhe imputando culpa jurídica, embora ele também seja causador da polarização. Estou debatendo a gravidade dos fatos. Pensei que só iria ler e escutar indignação em relação aos fatos, mas continuam politizando tudo. Se fosse contra Bolsonaro eu estaria escrevendo a mesma coisa. Não se trata de quem está no poder, se trata de atuar contra a democracia neste país.

O tiro, literalmente, saiu pela culatra. O que os supostos manifestantes conseguiram fazer foi fortalecer o atual governo e abrir espaço para ações mais pesadas. Foi uma aposta muito alta e perderam. Mancharam a reputação de uma direita inteligente e democrática. Pior é ter que escutar que foi a própria esquerda a responsável pelos ocorridos. Culpa dos infiltrados, dizem eles… o tempo dirá…

Compartilhe: