A próxima eleição para prefeito de João Pessoa será a primeira após Lula voltar à Presidência da República. As pesquisas mostram que o Brasil continua dividido e polarizado entre petistas e bolsonaristas. Sabemos que pleitos municipais têm forte influência das demandas das comunidades, visto que o prefeito é uma espécie de grande síndico da cidade. Porém, o posicionamento político-ideológico passou a ser determinante na escolha para grande parte do eleitorado.
Se antes para ser prefeito não era tão relevante deixar claro de qual lado político estava, isso mudou. Estabelecer lados passou a ser preponderante. Esquerda ou direita, Lula ou Bolsonaro, progressista ou conservador, quem é o político e o que defende ideologicamente se tornou obrigatório.
Os petistas estão escaldados após tantos baques sofridos desde 2014. A Lava Jato promoveu uma caçada aos seus principais líderes políticos e serviu como instrumento para o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Diante disso, petistas não parecem dispostos a fazer concessões para candidatos que não tenham compromissos firmados com as pautas que o partido defende, além de posicionamento claro contra o bolsonarismo.
Mas como estamos falando do PT, a situação em João Pessoa não é das mais confortáveis. Se nacionalmente o partido está em alta com Lula na Presidência, em João Pessoa a situação é bem diferente. O Partido dos Trabalhadores permanece isolado e caminha no sentido de mais uma disputa interna para a escolha do candidato a prefeito.
Na capital paraibana paira entre os filiados do PT a desconfiança em relação aos nomes que se colocam como opção para disputar as prévias para prefeito. Cida Ramos e Luciano Cartaxo colocaram os nomes à disposição. Ambos ocupam cargos de deputado estadual e recentemente voltaram ao partido.
Luciano Cartaxo deixou a legenda em 2015 para se filiar ao PSD, uma sigla de direita, que se aliou ao golpe responsável por tirar Dilma Rousseff da Presidência. Na ocasião, Cartaxo alegou que não queria ser penalizado pelos erros cometidos pelo PT e seus líderes. Logo, saiu fazendo coro com os que chamavam o partido de corrupto e reforçando o discurso lavajatista.
Cida Ramos saiu do PT em 2003, junto com o Coletivo Ricardo Coutinho e se filiou ao PSB, um partido do campo progressista que tinha como principal estrela o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em 2016, disputou a Prefeitura de João Pessoa contra o então prefeito Luciano Cartaxo e, posteriormente, foi eleita deputada estadual com a maior votação da Paraíba, em 2018.
Agora, ambos estão juntos no PT e deverão disputar as prévias para a Prefeitura de João Pessoa. Independentemente da viabilidade das candidaturas, os filiados do partido não querem correr o risco de patrocinar alguém que não tenha verdadeiro compromisso com o projeto político da legenda.
Se para parcela significativa da população saber as posições políticas e quais pautas os candidatos defendem é determinante para definir o voto, para os petistas isso é ainda mais importante. Em relação a isso, as principais dúvidas apontam para o ex-prefeito Luciano Cartaxo. Afinal, ele voltou para o PT, mas até agora não deu qualquer explicação sobre sua saída em 2015 e o fato de não ter apoiado Haddad em 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente.
Em relação a Cida, as questões são referentes à ligação ao ex-governador Ricardo Coutinho. Para muitos Cida ainda seria integrante do seu grupo, o que pode contar contra para os filiados, já que Ricardo Coutinho sempre foi conhecido pela sua falta de compromisso partidário e por priorizar seus interesses individuais. Basta lembrar que em 2022, após ser derrotado para o Senado, não seguiu a orientação partidária de apoiar o governador João Azevedo no segundo turno.
Quem quiser ser o candidato do PT precisará convencer sua militância dos compromissos com a legenda e das pautas que nacionalmente defendem. Além disso, será necessário deixar claro que não existe qualquer alinhamento com o bolsonarismo. Tudo isso deverá ficar explícito.
Sendo assim, a direção nacional do PT estará com a lupa direcionada para seus pretensos candidatos. Irá ponderar se vale a pena arriscar apoiar quem pode posteriormente trair o partido. Em tempos tão difíceis em Brasília, fazer apostas e comprar uma briga com aliados que têm votos na Câmara e Senado para ajudar o governo Lula será uma medida bastante cautelosa. Logo, a tese da candidatura própria não será definida apenas pela prévia.
Nessa perspectiva, parece que Cida leva alguma vantagem. Afinal, até hoje Luciano Cartaxo não esclareceu se mudou suas opiniões sobre o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Saiu do PT afirmando que a corrupção era tamanha ao ponto de comprometer sua reeleição e, até hoje, não fez um pedido de desculpas, muito menos teve uma postura contra o bolsonarismo e a direita radical.
Tudo isso irá pautar o debate no Partido dos Trabalhadores em João Pessoa. Afinal, ganhar e não levar é pior que uma derrota. Não sobra nada. Resta saber se o PT aprendeu com os exemplos que viveu no Brasil e na Paraíba.