Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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Ricardo, Lula e o Povo
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(Imagem: Matheus Albuquerque/Signo Inteligência e Marketing)

Evito tratar de temas relacionados à Paraíba nos textos que escrevo. Além de preferir falar de questões gerais, que interferem na conjuntura nacional, confesso que muitas vezes me cansam certas miudezas do cotidiano local. Também evito entrar em assuntos que tenham ligação direta com a minha principal atividade profissional, que é a publicidade e o marketing político.

Mas em tempos de eleições, sempre aparecem aqueles amigos que gostam de fazer análises sobre as campanhas e os candidatos aos quais mais prestam atenção. Perguntaram qual a minha opinião sobre a campanha de Ricardo Coutinho, marca e conceito que está trabalhando na sua campanha.

Para quem ainda não sabe, Ricardo Coutinho é pré-candidato a senador com o conceito “Nada vence o trabalho”, em cores que misturam o vermelho e preto da Paraíba, mais verde, amarelo e branco. O questionamento desse amigo soou como um desafio, já que os dados que disponho apontariam para um outro caminho.

Resumi a indagação feita pelo amigo: se nada vence o trabalho, como justificar a derrota contundente que Ricardo sofreu nas eleições em 2020 para prefeito de João Pessoa, o lugar onde ele mais trabalhou e prestou serviços à população? Logo, o conceito não se sustenta na memória mais recente que podemos puxar.

O amigo voltou a questionar, “mas Ricardo trabalhou muito, tem muitas realizações em toda Paraíba”. Disse: é verdade. Porém, o trabalho que a Calvário se propôs a fazer é muito semelhante ao que a Lava Jato fez com Lula, quando criminalizou os feitos e estabeleceu uma mácula de corrupção. No caso de Ricardo é ainda mais recente e complicado, porque não teve a mesma reviravolta jurídica que Lula, com provas de conluio entre procuradores e o juiz do caso, que depois ainda foi considerado suspeito e incompetente. Aqui na Paraíba, nem a defesa foi concluída, muito menos o julgamento. A condenação é moral e midiática, talvez a pior de todas para um político.

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Vale ressaltar que os estragos da Calvário foram mais severos nos segmentos altos e médios e nas cidades com mais riqueza e renda. Assim como no caso de Lula, os mais pobres espalhados pelos recantos mais esquecidos do Brasil foram menos atingidos pelo processo de desconstrução e condenação midiática. Tanto Lula quanto Ricardo contam com ampla aprovação entre aqueles que têm renda de até um salário mínimo, que na Paraíba correspondem à maior faixa, por razões objetivas relacionadas aos benefícios e melhorias que as gestões representaram em suas vidas.

Costumo dizer que quanto mais objetivos são os motivos do voto, menos suscetível estarão a processos de desconstrução. Porém, fica claro que por mais que essa percepção seja fruto do trabalho realizado, existe uma outra parcela muito grande que assimilou a lógica de que o motivo maior em torno do que foi feito era ilícito. Logo, não se pode desconsiderar um conceito que exalta o trabalho, como se exatamente ele fosse ser o alvo das maiores críticas.

Fica fácil dizer que o maior trabalho realizado foi roubar, mas é quase impossível dizer a alguém muito pobre que uma realização que lhe proporcionou alguma dignidade é decorrente de alguma prática condenável. De forma indireta, existe nesse contraponto enfrentamento de classe, mesmo que não seja algo construído de forma pensada e ideológica. É impossível dizer que o Bolsa Família é coisa de bandido, mas é muito fácil afirmar que saúde, educação e obras em geral serviram como mecanismos para desvios e enriquecimento ilícito.

Existe uma máxima no marketing político que diz: o primeiro público a se amarrar é o que já tem. No caso desse público ser a maior parcela do eleitorado, assume importância muito maior. Para Lula e Ricardo o conceito vitorioso está nessa massa de pobres que clamam pelo retorno de políticas públicas que olhem para eles.

A reação que permite Lula liderar as pesquisas no Brasil é majoritariamente de pessoas que sentiram na pele e na alma o que foram os anos de governos petistas. Se tem algo que não se pode secundarizar nessa campanha é a força do povo, que responde claramente em quem quer votar, mesmo com todo trabalho contrário dos grupos que fazem opção por Bolsonaro.

Mas a questão inicial foi qual seria o conceito mais apropriado a Ricardo Coutinho, capaz de lhe blindar dos ataques que sofrerá e forte o suficiente para amarrar de vez o eleitorado que pode lhe dar a vitória. Não tenho dúvida que o que Ricardo tem de mais forte e exclusivo é a relação com Lula e a identificação do povo como alguém com quem podem contar e andar juntos.

Se o trabalho já foi derrotado tantas vezes, quem quiser ganhar as eleições na Paraíba para os cargos majoritários não deve desconsiderar as duas maiores forças que emanam nesse momento: Lula e o Povo. Como disse antes, conceituar a campanha de Ricardo foi visto como um desafio, um exercício instigante. Alguns podem dizer “mas ele está liderando as pesquisas”. Porém, com o conceito acertado, pode liderar, amarrar quem lhe dá sustentação e ampliar as intenções de voto.

Para materializar essa proposta, chamei dois parceiros, Felipe Gesteira e Matheus Albuquerque para em tempo recorde formatarmos o que seria uma proposta de conceito e marca para a campanha de Ricardo Coutinho. Poucas horas depois estava tudo pronto, em parte pela fácil leitura e certeza de qual seria o conceito mais forte para enfrentar essas eleições e muito pela capacidade dos parceiros em converter em arte.

Pois é, a resposta que meu amigo pediu está materializada. RICARDO, LULA E O POVO é ao mesmo tempo marca e conceito. Não resta dúvida que na Paraíba não tem elementos que sejam mais fortes juntos. Fica a dica!

(Imagem: Matheus Albuquerque/Signo Inteligência e Marketing)
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