Morreu nessa semana, aos 86 anos, o político e empresário italiano Silvio Berlusconi. Ex-dono do Milan e protagonista de diversas polêmicas, piadas infames e posicionamentos machistas, o homem mais rico da Itália e ex-primeiro ministro não será lembrado apenas como mais um bilionário.
Ele deixa um legado histórico de inspiração a políticos que construíram suas trajetórias usurpando a ordem social e manipulando a opinião pública. No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o senador Sergio Moro (União Brasil) são dois que seguiram a cartilha de Berlusconi para ascensão política.
A Operação Lava Jato atacou a democracia no Brasil, quebrou empresas, destruiu a economia, matou milhares de empregos e, com apoio do Judiciário e da imprensa, num movimento que classifico como jurídico-midiático-institucional, criminalizou um partido político que buscava implantar políticas de combate às desigualdades enquanto levou a extrema-direita ao poder. Nada disso é novidade, está na história. Bolsonaro, um parlamentar inexpressivo por 30 anos percebeu o momento e surfou na onda.
O que pouco se fala além do oportunismo de Bolsonaro é da mente criativa de Sergio Moro, o ex-juiz político que com sua jogada tática virou até ministro. A Lava Jato não surgiu no Brasil sem um exemplo. Em 2004, muito antes de qualquer movimento por aqui, Moro publicou o artigo “Considerações sobre a Operação Mani Pulite“, a ‘lava jato’ italiana que colocou Berlusconi no poder e serviu como exemplo para a operação daqui.
No texto, Moro ressalta a importância do trabalho dos vazamentos de documentos em conluio com a imprensa. “As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite“, publicou o ex-juiz.
Seria um prenúncio de modus operandi dito por Moro? É no mínimo muita coincidência, pois da forma como aconteceu por lá, muito foi reproduzido aqui, com proporções e violações até mais graves.
O ídolo de Moro e Bolsonaro se foi. Seu legado de maldades ainda será digerido por gerações mundo afora.