Ouvi falar pela primeira vez de Roberto Coura logo quando comecei a fotografar, aos 19 anos. Coura era referência na fotografia paraibana, com trabalho consistente, reconhecido nacionalmente. Em qualquer pesquisa sobre a fotografia na Paraíba, lá estava ele. Morto no dia 31 de agosto, vítima de um infarto, sua obra permanece, assim como suas impressões além daquelas reveladas pelos químicos nas salas escuras.
Na ocasião de sua passagem, foram muitas as notas de pesar país afora, visto que as artes visuais perdiam no Brasil um mestre. Ao mesmo tempo, pessoas que tiveram a felicidade de conviver com Coura contavam sobre suas excentricidades, alegria, e da forma espontânea como ele encarava coisas simples.
Coura, dizem os mais próximos, era um exímio observador. Não obstante em capturar, instigava seus alunos à busca pela beleza das coisas. “Experimente desenhar um cheiro”, disse certa vez em uma de suas aulas, no Departamento de Arquitetura da Universidade Federal da Paraíba. Quando perguntado do porquê de não trocar sua Belina por um carro mais novo, respondia que não precisava de carro novo, já que o veículo servia apenas para ele subir no teto e alcançar um ângulo diferente para suas fotos.
Por uma semana ouvi muitas histórias sobre Coura, do humor no dia a dia ao entusiasmo em cada etapa do processo fotográfico. Deu vontade de tê-lo conhecido.
Falamos sobre morte neste dia de celebração em homenagem aos que nos deixaram, assim como falamos sobre mortes em meio a uma pandemia que, somente no Brasil, fez mais de 600 mil vítimas fatais, em sua maioria por conta da falta de ação do governo federal no combate à doença.
E ao perceber o sorriso das pessoas que falavam sobre Coura, lembrei-me de outros que partiram neste ano, pela covid-19 ou não, e das impressões que nos deixaram. A elegância de Walter Galvão no trato com os colegas; a entrega de Ely Marques, sempre disposto a trabalhar por um amigo ou pelo crescimento do cinema na Paraíba; a alegria de Eduardo Carneiro e sua doçura com todos aqueles que o cercavam; a atenção do professor Wellington Pereira com seus alunos.
A obra de um artista é eterna. Mas somos mais do que nossas obras artísticas e documentais. Somos o bilhete assinado, a carta de amor enviada em mensagem de WhatsApp, a voz marcada na memória após uma ligação inesperada. Somos poesia em movimento. Marcas diversas, nas mais variadas formas, como um sapato usado que lembra seu antigo dono e mais ninguém. Somos, para além do legado, o carinho que deixamos.