Todo trauma é culpa da mãe. A relação mãe e filho é essencialmente traumática. O nascimento é o primeiro rompimento que somos obrigados a enfrentar. A relação de viver juntos deixa de ser possível, mas vai estar sempre latente.
Todas as culpas são atribuídas à mãe. O pecado original, a escolha do pai, tudo é responsabilidade da mãe. Logo, por mais amor que exista na relação mãe e filho não terá quem carregue mais imputações do que aquela senhora cruel, que ousou nos tirar da segurança do ventre e entregar aos perigos do mundo.
A mãe será responsável até pelos nossos erros ao longo da vida. Filho da mãe, filho da puta, até nessa hora ela será lembrada. Afinal, se estou nesse mundo a cometer tantos erros, é em decorrência dos pecados que minha mãe cometeu.
Quanta ousadia dessas mulheres, nem homens são, para acharem que têm o direito de estabelecer os limites que deveremos seguir. O desmame, a chupeta, a comida, a hora de dormir, o banho, o remédio, as tarefas, quase tudo que implique em limites e nas condições objetivas de sobrevivência são essas mulheres que estabelecem.
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Apesar de tudo isso, ainda acha que pode abraçar, beijar e dizer palavras bonitas, com esse papo que faz tudo por amor e depois ficar incólume. Nada disso, aqui literalmente se padece, mesmo que não exista paraíso.
Se como filho não terei como vingar o trauma que me impôs, a moral machista cristã já fez isso antecipadamente e a você será imposta a obrigação de aceitar todo o peso da criação, sem direito a gemer e ainda ter que escutar o quanto deixou a desejar nessa missão divina a que foi agraciada.
Pois é, para quem não tem a dimensão do que é ser mãe, imagine que diante de tudo isso, a maioria absoluta delas vive em função desses desafios. Por mais difícil que seja a tarefa de ver sua parte, seu filho, tomar rumos diversos, mãe não larga o seu posto e vive essa eterna missão incondicionalmente.
Tenho orgulho de ser um filho da mãe. Orgulho de ter tido uma mulher que sempre fez o melhor que pode, que tem ciência dos traumas existentes, mas que nunca hesitou, mesmo diante do peso gigantesco que é ser mãe. Obrigado.