Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Uma escolha muito difícil?
Compartilhe:
Cícero (à esquerda) reúne um arco de alianças com partidos de direita, centro e do campo progressista; Queiroga representa a extrema direita (Imagens: Reprodução/Instagram)

Sob o título “Uma escolha muito difícil”, um editorial publicado no dia 8 de outubro de 2018 pelo Estadão marcou a reta final da campanha presidencial naquele ano. Um dia após a definição para o segundo turno, o jornal, um dos maiores do país, colocava os então candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PL) num patamar de comparação, como se fosse possível. À época, o campo progressista se sentiu aviltado. O texto visivelmente favorecia Bolsonaro ao colocá-lo como um político tão capaz de manter o ambiente democrático quanto Haddad, que já havia sido prefeito da maior cidade do país e ministro da Educação. O resultado está na história: a extrema direita venceu e, em decorrência disso, o país enfrentou anos de negação à ciência e ataques ao meio ambiente, à imprensa, às liberdades individuais e ao estado democrático de direito, além de uma crise econômica sem precedentes. Por conta desse editorial, até hoje o jornal é cobrado pela sociedade.

Guardadas as proporções, me parece que alguns grupos, militantes e políticos que se intitulam progressistas em João Pessoa querem emplacar uma versão atualizada do fatídico editorial do Estadão quando se colocam em cima do muro neste segundo turno da campanha para prefeito. Eles se dizem defensores da democracia, mas optam pelo caminho da covardia no momento em que ficam em cima do muro.

São duas opções: Cícero Lucena (PP), atual prefeito que, se reeleito, fará seu quarto mandato, e Marcelo Queiroga (PL), que foi ministro da Saúde no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar de Cícero não ser um candidato de esquerda, são candidaturas diametralmente opostas. Cícero é defensor da democracia e tem ao seu lado um arco de alianças desde a direita, o centro, até a esquerda, que só não está unida por conta desses poucos em cima do muro. É um democrata contra tudo o que o bolsonarismo e a extrema direita representam.

No sistema eleitoral que considera apenas votos válidos, ficar em cima do muro só serve para favorecer um dos lados, nesse caso o lado do Bolsonarismo. Eles não perdem a oportunidade. A extrema direita jamais vota nulo quando tem um candidato seu no páreo.

É lamentável a incoerência de quem milita na esquerda e defende voto nulo. Dizem que não votam porque não se sentem representados, mas defendem a democracia. Chamar voto nulo de posicionamento em defesa da democracia numa disputa contra a extrema direita ultrapassa os limites do eufemismo, beira a desonestidade na tentativa de confundir a população.

Mais corajosas foram figuras que participaram do golpe contra o PT local no primeiro turno e tiveram a honradez de mudar a rota no segundo, dar a cara e seguir a nacional no enfrentamento ao bolsonarismo. Ou aquelas pessoas que votaram e fizeram campanha contra Cícero, mas neste momento percebem a mudança na disputa e já definiram posicionamento. Independente de lado a ser favorecido, o voto nulo sempre representa a ausência de participação do processo. Fazer escolhas, mesmo que não sejam confortáveis, e assumir posicionamento público não é para qualquer um.

Há ainda quem faça esse arrodeio argumentativo e depois não queira ser cobrado por favorecer a extrema direita. Se fizeram essa opção, que assumam também as consequências, seja à imagem ou de caráter eleitoral. A história não perdoa ninguém. Hoje o Estadão é lembrado de forma negativa, amanhã serão os falsos progressistas.

Lista de políticos e entidades em cima do muro (esta lista poderá ser atualizada)

  • Luciano Cartaxo (PT)
  • Ricardo Coutinho (PT)
  • Sandra Marrocos (Podemos)
  • Fórum dos Fóruns de Cultura da Paraíba (FdF-PB)
Compartilhe: