Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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Vereador escorrega na matemática durante fala na tribuna da Câmara de João Pessoa
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(Foto: Reprodução/YouTube)

Ele queria falar bonito, e até conseguiu. Só não foi necessariamente correto. Em breve arrodeio retórico, o vereador Odon Bezerra (PSB) sapecou na sessão da terça-feira (28) da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) um termo matemático para introduzir mais uma de suas defesas à Prefeitura de João Pessoa.

O argumento sobre o crescimento da população da capital paraibana e os problemas enfrentados pelo prefeito Cícero Lucena (PP) era plenamente válido, mas para defender o aliado, Odon não precisava escorregar na matemática. O parlamentar arriscou até o senso comum ao dizer “todos nós sabemos que João Pessoa cresce em progressão geométrica”.

É bem verdade que houve um crescimento populacional superior a 250% entre os anos de 1970 e 2020. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital saiu de 228,4 mil habitantes para 809 mil, em 2019.

Pelo visto, apesar da figura de linguagem pra lá de hiperbólica, não era bem uma progressão geométrica a referência do vereador pessoense.

É muito comum em discursos associar crescimentos vertiginosos a progressões geométricas, isto porque quando se estuda o básico das progressões, a geométrica (PG: 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128…) cresce de forma muito mais alavancada do que a aritmética (PA: 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14…), considerando neste exemplo a mesma razão (2) para ambas.

Se João Pessoa crescesse numa progressão geométrica com razão 2, por exemplo, considerando 5 intervalos de dez anos e partindo da população registrada em 1970, a capital teria hoje 3,6 milhões de habitantes.

Teoria defasada

Há uma teoria que aponta crescimentos populacionais com base em progressões geométricas. Criada pelo economista inglês Thomas Malthus, a teoria demográfica malthusiana alertava para o risco de escassez de alimentos, considerando que as populações cresciam em progressão geométrica e o ritmo da produção de alimentos crescia em progressão aritmética.

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O problema desenhado pelo economista é mais social do que matemático, visto que há saída para resolver a fome no mundo, mas as políticas de enfrentamento às desigualdades sociais, reforma agrária e sustentabilidade são mais difíceis de serem implantadas do que o avanço dos interesses com base no capitalismo e na exploração do trabalho. A teoria de Malthus foi publicada pela primeira vez em 1798. Atualmente é desconsiderada devido aos avanços nas tecnologias agrícolas.

Para tudo tem jeito

Muito provavelmente não foi o que Odon quis dizer, mas para que o nobre parlamentar não tenha em sua biografia uma gafe digna de quem faltou às aulas de matemática, é possível fazer um contorcionismo e justificar, mesmo numa progressão geométrica, seu discurso.

Considerando o mesmo ponto de partida, aqueles 228,4 mil habitantes lá em 1970, e 5 intervalos de 10 anos, sob uma razão de 1,372, aí sim a população de João Pessoa estaria em torno dos 809 mil habitantes.

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